Mulheres na tradução: resistência e reconhecimento

A presença feminina na tradução literária é marcada por talento e muita resistência. Este artigo celebra a atuação das mulheres na tradução, com destaque para suas conquistas, reflexões e contribuições para o mercado editorial. Descubra no artigo abaixo o que algumas das tradutoras da Ercolano contam sobre ser mulher e atuar neste mercado.  

O Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil 2025 

No dia 29 de agosto de 2025, foi realizada a quarta edição do Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil. O evento busca reconhecer a importância da tradução, homenageando obras francófonas traduzidas para o português, publicadas no Brasil entre maio de 2024 e abril deste ano. 

A obra vencedora desta edição foi Senhor Vênus (Ercolano, 2024), de Rachilde, com tradução de Flavia Lago. Um clássico decadentista da segunda metade do século XIX, o romance desafia os papéis de gênero tradicionais e explora temas como sexualidade e poder, fazendo com que tanto a narrativa como sua autora fossem considerados altamente transgressoras pela sociedade conservadora da época. 

O júri do prêmio destacou a qualidade excepcional do trabalho da tradutora, que foi capaz de restituir a complexidade e a sofisticação da obra para os leitores brasileiros de hoje, sem deixar de lado a leveza e a fluidez.

Assista à cerimônia completa da premiação aqui.

Mulheres da tradução: Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil
Mulheres na tradução: Flavia Lago vence Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil por sua tradução de Senhor Vênus | divulgação

Um mês dedicado às mulheres na tradução: entenda a iniciativa e sua importância

Todos os anos, no mês de agosto, desde 2014, celebra-se o Mês da Mulher na Tradução, comemorando o trabalho de mulheres responsáveis por traduzir obras para as diversas línguas. Também conhecido como Women in Translation Month a celebração foi criada nos Estados Unidos, pela pesquisadora Meytal Radzinski, e é uma das iniciativas da associação Women in Translation Movement, que visa promover a apreciação e o alcance do trabalho de mulheres tradutoras. Trata-se de um projeto focado em engajar leitores ao redor do mundo na leitura de obras estrangeiras, dando destaque para a atuação de mulheres profissionais da escrita e da tradução

O que significa ser mulher e trabalhar com tradução? 

A desigualdade de gênero está presente em todos os aspectos da vida da mulher, e a luta pelo respeito e pela inclusão feminina nos mais diversos âmbitos sociais faz da resistência uma característica geracional. Na literatura e, portanto, na tradução, não é diferente. O gênero segue impondo uma série de desafios, mas, paradoxalmente, pode oferecer também possibilidades e pontos de vista inovadores. Os depoimentos abaixo trazem as respostas de tradutoras profissionais para a pergunta: o que significa, como mulher, trabalhar com tradução?

Andréia Manfrin

Mulheres na tradução: Andréia Manfrin

“Acho que temos uma questão política envolvida, porque podemos reescrever uma tradução questionando uma centralidade do original que muitas vezes é masculina. Então temos ali uma voz e palavras escolhidas por uma mulher nessa reescrita. 

Tem um olhar de gênero também, porque conseguimos dar visibilidade a vozes femininas que por tanto tempo foram silenciadas. Estamos lutando contra a invisibilidade, mas também por um espaço de poder. Estamos recriando mundos, mediando vozes, são muitas camadas e eu acho que elas estão todas ligadas e interconectadas e vão se construindo ao longo do tempo.” 

Flavia Lago

Mulheres na tradução: Flavia Lago

“Essa pergunta foi bastante desafiadora, pois ser “tradutora mulher” significa representar não apenas o ofício da tradução, mas também carregar a marca de uma identidade que, em diversas situações, é colocada em contraste com a de colegas homens. 

Historicamente, mulheres sempre tiveram um papel central na tradução literária, mas sua presença foi frequentemente invisibilizada. Associar o trabalho de tradutora a uma suposta “sensibilidade feminina” reforça estereótipos que reduzem a complexidade do ato tradutório a traços de gênero, quando, na verdade, traduzir é um exercício intelectual, criativo e técnico que não depende de ser homem ou mulher. 

É algo que se relaciona muito mais ao repertório particular de vivências, saberes e leituras dos profissionais. Para mim, a questão está justamente em problematizar essa diferenciação: reconhecer que ser uma ‘tradutora mulher’ é existir em um espaço marcado por estigmas de gênero, mas também é ocupar esse lugar com consciência de que a qualidade e a relevância do trabalho não se medem pelo gênero, e sim pela competência, pelo rigor e pela voz que se faz ouvir no texto traduzido.” 

Julia da Rosa Simões 

Mulheres na tradução: Julia da Rosa Simões 

“Penso no meu trabalho de tradutora como a construção de um espaço absolutamente meu e independente – o Room of One’s Own da Virginia Woolf, ou a Arrière-Boutique do Montaigne –, onde posso mergulhar na voz de um texto e produzir uma nova voz por meio de um ato de criação. Envolve retiro e solidão, mas não deve ser confundido com invisibilidade e mera submissão. Pelo contrário, também é um trabalho de luta por direitos e reconhecimento, em um mercado e em uma sociedade historicamente marcados por desigualdades de gênero, entre tantas outras.”

Mulheres na tradução: obras que você precisa conhecer

Aqui na Ercolano, acreditamos que a arte da tradução tem o poder de tornar a literatura mais acessível e, consequentemente, de abrir portas para a criatividade e reflexões de leitores ao redor do mundo. Ela tem o poder de nos apresentar não apenas uma janela para novas realidades, mas também nos desafiar a questionar a nossa própria. Conheça todas as nossas obras com tradução realizadas por mulheres:

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